sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Entrevista Com Albertina Ramos "Eu não decidi (ser professora), a vida decidiu por mim"


Professora de Língua Portuguesa, Literatura e Metodologia de Ensino Superior, Albertina Ramos é uma apaixonada pelo o que faz. Aos 63 anos, a experiente educadora está em plena atividade e mantém uma agenda lotada. Ela leciona no Colégio Estadual Amaro Cavalcanti, no Largo do Machado, na UniCarioca, na Fundação Getúlio Vargas Online e ainda é consultora empresarial em redação administrativa. Há quase cinco décadas, a simpática professora mora no bairro do Flamengo e, num bate-papo com a Revista Circuito, onde passa a ser colaboradora, nos falou sobre educação, a região e a polêmica reforma ortográfica. 

Circuito: Por que você decidiu ser professora? E como foi o começo de sua trajetória como educadora? 
Professora Albertina: Eu não decidi, a vida decidiu por mim. Aos quatro anos, eu ainda não tinha entrado numa escola e já dizia: “Eu vou ser professora!”. Eu comecei a dar aulas particulares, com nove anos de idade. Com 16, eu entrei num colégio para dar aula, na oitava série do ensino fundamental, e nunca mais parei.
O que é necessário para ser um bom professor? 
Professora Albertina: Eu vou ter que usar a única palavra que responde: tesão. Tesão de dar aula, vontade de dar aula, de aprender com o aluno. Porque se engana muito o professor que pensa que ensina. Ele não ensina, ele motiva o aluno a aprender. Ensinar é uma consequência que pode até acontecer, às vezes, mas é muito melhor o aluno sair buscando. E para isso, o professor tem que ter bastante tesão, bastante vontade.
Atualmente, como está a educação em nosso país, em sua opinião? 
Professora Albertina: Ainda muito mal, mas muito melhor do que já esteve. Quem pesquisar o Ministério da Educação e Cultura, poderá observar que, hoje, o Ministério está tentando melhorar. Está abrindo escolas técnicas, motivando, incentivando muito o ensino à distância. Se formos por esse caminho, evidentemente, dando salários condignos aos professores, as coisas vão funcionar um dia...
No ano passado, foi sancionada a reforma ortográfica e as mudanças na escrita começaram a valer no dia 1º de janeiro de 2009. No entanto, acadêmicos divergem sobre a necessidade das novas regras. Qual a sua opinião sobre esta mudança? 
Professora Albertina: A unificação de uma ortografia em todos os países que falam a mesma língua, evidentemente, é muito boa. O que não se pode elogiar é uma reforma que demora... Eu falei nessa reforma, pela primeira vez, em 1992. Em 16 anos, a reforma foi discutida e saiu uma reforma capenga. Ainda hoje, eu liguei para Academia Brasileira de Letras, e conversando com o professor Sérgio Pachá, tivemos que concordar, a oportunidade de uma reforma seria excelente para se fazer realmente uma reforma e simplificar as coisas. Em alguns aspectos, ela veio piorar. O brasileiro não lê, portanto, ele não conhece nada da língua. E quando se fala na reforma, precisaria pensar que o aluno já conhecia as regras antigas. Ele não conhece, normalmente. Então, os problemas são maiores do que as facilidades. 
Até 31 de dezembro de 2012, ficará valendo tanto a ortografia atual quanto as novas regras. E quem já saiu da escola, como poderá aprender as novas mudanças na grafia longe da sala de aula? 
Professora Albertina: A Academia Brasileira de Letras tem um dicionário escolar, que já apresenta as palavras escritas de acordo com a nova ortografia. E, até a primeira semana de março, vai ter editado o vocabulário ortográfico da língua, que é um livro que apresenta as palavras de acordo como elas devem ser escritas, sem os sinônimos. Normalmente, o vocabulário ortográfico custa caro, o dicionário custa um pouco mais barato. Mas eu já estou pensando, com uma colega, Cristina Semeraro, de montar um curso para atualização das normas ortográficas. Uma coisa rápida, que dê vontade das pessoas voltarem a estudar um pouquinho mais português, a partir da nova ortografia.
Os livros e os dicionários são obrigatórios nas listas de material escolar. Quem comprar uma edição antiga agora, terá que trocá-la depois. Afinal, o acordo ortográfico irá pesar no bolso dos estudantes? 
Professora Albertina: Eu costumo dizer que, essa reforma foi excelente para as editoras. Isso não tenha dúvida. Eu tinha onze, doze anos e lia livros do século XIX, sem nenhuma dificuldade. Brasileiro lê Saramago sem nenhuma dificuldade. Quer dizer, ele lê um autor português sem problema nenhum. Ocorre que, evidentemente, muitos pais e estudantes vão sofrer com a reforma, porque eles vão ter que comprar os novos livros. Agora, não os meus alunos! Porque os meus alunos compram livros em sebo, porque é no sebo que se aprende... 
Agora, falando sobre a nossa região. Quais os pontos positivos e negativos do Largo do Machado? 
Professora Albertina: O Largo do Machado tem história e é bonito. Mas, às vezes, a gente não vê a beleza por causa da pobreza. Mas o Largo do Machado tem uma bonita igreja, a Estação do Metrô, um bom chafariz, o Colégio Estadual Amaro Cavalcanti, que é um prédio tão bonito. O que enfeia não é o homem, é a situação feia em que o homem vive... Mas o Largo do Machado é muito bonito. 
Você costuma consumir produtos e serviços do comércio local? 
Professora Albertina: Quase tudo. Agora mesmo, nós estamos num belíssimo café que, hoje em dia, é o meu segundo escritório. Eu tomo café aqui, eu como ali embaixo, num restaurante, toda minha vida bancária está por aqui, os supermercados são bons. O Largo do Machado e a Rua do Catete têm muitas opções de compras. Eu que não sou de shopping, sou mais de lojas de rua, uso muito o Largo do Machado, Catete e Flamengo.
Para finalizar nosso bate-papo, por que você escolheu a região para morar? 
Professora Albertina: Eu também não escolhi (risos). Eu vim da Urca com a minha família, quando ainda era adolescente. Eu sinto uma grande saudade da Urca, mas tendo morado no Flamengo, acho que me adaptaria muito mal na Urca. Porque o Flamengo é um lugar que tem tudo e é central. É próximo de Ipanema e muito próximo do Centro. Com o Metrô, então, é mais fácil ainda...



Estou colocando na integra uma entrevista da Professora Albertina Ramos feita pelo Guia Circuito Largo do Machado que circula pela região. Nesta entrevista feita pela coleguinha Luciane D'Oliveira vemos o estilo de ensino utilizado pela professora e sabemos sua opinião sobre a educação nos dias de hoje. Não consegui saber a data da entrevista, mas é atual pois ela vinha colaborando neste guia a pouco tempo, se eu não me engano escrevendo uma coluna ou artigo. Mas fica a descontração e o tesão pelo qual ela tinha em dar aula e incetivar seus alunos a buscar o apredizado e assim fazer uma troca de conhecimentos! Assim como ela diz na entrevista "Eu não decidi (ser professora), a vida decidiu por mim." Ela nasceu assim e viverá assim em nossos corações! Obrigado Albetina Ramos!